Estas questões surgem em diversos contextos, quer no campo profissional quer no pessoal. Ao longo de 13 anos tenho acompanhado profissionais em processos de coaching e em formações organizacionais e frequentemente questionam sobre as razões que levam à existência de uma dificuldade recorrente em concretizar alguns objetivos que tanto desejam e com significativa importância. As técnicas para orientar uma pessoa a persistir nos seus objetivos são variadas, no entanto, num determinado período a “receita” que seguimos deixa de funcionar. Poderá questionar-se: “Mas porquê? Se sou a mesma pessoa e quero concretizar!”. Vamos fazer um pequeno parênteses: quando quer fazer um bolo, decide o tipo de bolo que quer confecionar, um que nunca fez e com um grau de dificuldade maior, imagina como vai ficar delicioso, quão saboroso e cremoso. O seu entusiasmado cresce com esta ideia de obter um resultado maravilhoso. A vontade de fazer o bolo está reforçada e aconteça o que acontecer o bolo vai ser feito! De seguida, pensa no que precisa para a realização do mesmo: “Tenho uma forma? Uma espátula? A batedeira funciona? Que outros utensílios irei precisar? Que ingredientes preciso para este bolo? Já os tenho? Tenho de os ir comprar? Este bolo é demasiado complexo? Quem me poderá ajudar?” À medida que vai fazendo o bolo, depara-se com várias dificuldades e começa a esmorecer, deixa de acreditar que o bolo irá ficar tão bom como desejava, ainda assim continua e cá está – um bolo torto, pouco saboroso!

Agora é a parte mais importante: o que faz com este resultado?
Pensa: Hipótese 1: “Bela coisa esta! O melhor é dedicar-me a outra coisa! Não tenho jeito nenhum para isto. No fundo eu sabia que era demasiado complexo para mim”.
Hipótese 2: “Realmente pior era impossível! Mas até está engraçado e original e se colocar um pouco mais de sumo de laranja vai ficar melhor. Para a próxima vou experimentar colocar mais x e menos de y. Acho que foi isso que não correu tão bem. Mas está feito! Agora vai ser sempre a melhorar! Venham mais!”. Fechando o parênteses, pergunto: – O que esta história da confeção do bolo tem a ver com a questão da dificuldade de concretização dos objetivos que tanto quer? – Querer não é poder? De facto, há mais aspetos a considerar. Comecemos por analisar as estratégias de pensamento que estão por trás de uma simples confeção de bolo:
Decisão – decidiu que seria bom fazer um bolo.
Objetivo – definiu o tipo de bolo e quando o iria fazer.
Visualização – imaginou como ficaria saboroso o bolo quando o terminasse, criou entusiamo para a sua concretização mesmo sendo um bolo mais complexo.
Recursos – avaliou os utensílios e ingredientes que tinha e que precisaria para confecionar o bolo.
Experiência – pôs as mãos na massa e confecionou o bolo.
Dúvida – com o desenrolar da experiência e o confronto com um resultado não satisfatório face ao idealizado, criou-se um GAP entre o que deseja e a realidade atual. É aqui que nasce a frustração. Mais à frente neste artigo, explico como contornar esta frustração.
Confiança enfraquecida – desiste de continuar a fazer o bolo ou termina-o, mas considera que não tem jeito para aquele género de bolos e não volta a tentar.
Confiança restabelecida – apesar do resultado não corresponder ao esperado, vai continuar a tentar e não se leva tão a sério. Aceita o que realizou embora pareça um pouco “troglodita”, mas fez! Valoriza a ação e não o resultado. O resultado é a intenção, o prazer está na ação, na experiência, no processo.

Com esta análise compreende-se qual foi o momento de viragem. O momento de viragem acontece quando o resultado não está a corresponder ao esperado e surge a frustração. É aqui que toma a decisão de alimentar a confiança ou, pelo contrário, enfraquecê-la. Porque é que isto acontece e como manter o foco no objetivo? Quando algo não está a corresponder ao esperado, surge a dúvida, coloca em causa as suas competências para alcançar o pretendido e nesse momento o cérebro emocional e instintivo são ativados. Para gerir a emoção (frustração) que se desencadeia com essa dúvida, primeiro é preciso desvendar os mistérios que o cérebro guarda, explicar como funciona para saber como atuar eficazmente. Paul Maclean, neurocientista na década de 70, propôs a teoria do “cérebro trino” , dividindo em três níveis de consciência:

Cérebro reptiliano (Instintivo) – ou tronco cerebral, é a parte instintiva do cérebro com milhões de anos, partilhado com os répteis. Corresponde aos comportamentos com o propósito da sobrevivência e da autopreservação (ex: fome, sede, sexualidade, regulação dos sistemas circulatório, digestivo, etc). O cérebro instintivo não julga, apenas atua automaticamente. Obedece a ordens. O instinto precedeu a emoção na escala evolutiva. As emoções como o medo e a raiva desencadeiam o instinto de sobrevivência: fuga ou ataque.

Cérebro límbico (Emocional) – mais recente, surgiu nos mamíferos. Corresponde ao cérebro emocional, o olfato e a memória de curto prazo. Uma das áreas do sistema límbico são as amígdalas que são duas estruturas esféricas do tamanho de um amêndoa que têm uma função importante na regulação das emoções. A amígdala controla as emoções. O psicólogo Daniel Goleman designou de “sequestro da amígdala” quando o pensamento lógico fica ao comando das nossas emoções. A amígdala compreende a situação como uma ameaça à estabilidade emocional e comunica com o cérebro instintivo o qual prepara o corpo para “atacar ou fugir”. A avaliação que a amígdala processa determina a maior ou menos eficácia da intervenção do neocórtex, do cérebro lógico. Uma situação entendida pela amígdala como prazerosa mantém o equilíbrio emocional e permite o cérebro racional funcionar em pleno, se for entendida como dolorosa desencadeia ações instintivas de autopreservação. Tanto o cérebro instintivo como o emocional são “reativos”.

Cérebro neocórtex (Racional) – é a região do intelecto, responsável pelo pensamento lógico, pela tomada de decisão e resolução de problemas. Diferencia-nos dos outros animais. Representa a inteligência para alcançarmos os nossos fins impondo restrições às emoções e aos impulsos instintivos. É o centro da autoconsciência, da escolha tornando possível sermos os donos do cérebro. Voltando à questão, porque acontece a dificuldade de permanecer no objetivo, a resposta agora é mais clara: Quando surge a frustração, quando o resultado não está a corresponder ao pretendido ou o esforço é demasiado, identificamos a circunstância como uma dificuldade, o nosso cérebro entra em alerta e responde instintivamente. Quanto maior for essa frustração e a jorrada de pensamentos de dúvida, de insegurança mais o nosso cérebro vai trabalhar para nos “defender” e a ordem será de “parar, fugir ou atacar”, por isso desistimos ou destruímos. O cérebro atua para garantir que poupamos esforços, a intenção é boa mas o resultado não. Mas atenção, é preciso ressalvar que o papel do cérebro primitivo e emocional é fundamental em muitas situações, por exemplo perante o descontrolo de um carro e um iminente acidente, graças à ação rápida, desencadeia e prepara o corpo para uma resposta instintiva e previne o acidente. Se o neocórtex entrasse nesse processo iria pensar e analisar os prós e contras de uma determinada ação, provavelmente o acidente ocorria. O que fazer para ultrapassar esta recorrente dificuldade? Precisa trazer a consciência para a situação, utilizar o cérebro neocórtex para este processo ser bem-sucedido. Perante a frustração e os pensamentos que a alimentam: “não vale a pena”, “isto dá mais trabalho do que pensava”, “não vou conseguir”, é preciso agir sobre uma parte do o cérebro límbico. Enquanto a amígdala receber informação de “perigo” através dos pensamentos vai continuar a passar informação para o cérebro primitivo que é preciso “proteger” e que a “sobrevivência” está a ser colocada em causa.

Os 5 segredos para “acalmar a amígdala“ e voltar a aceder ao cérebro Neocortex, ao pensamento lógico, são:
Respiração consciente – para acalmar a mente e fazer o switch entre a mente desfocada/negativa e a focada/construtiva. A respiração consciente tem resultados comprovados no controlo da intensidade da amígdala e até na redução da sua densidade. Experimente concentrar-se na respiração, inspire em 4 tempos, retenha o ar durante 4 segundos e expire profundamente em 4 tempos ou mais, repita este ciclo respiratório as vezes que considerar necessário. Por vezes, é o suficiente para acalmar os pensamentos que não constroem confiança e ver as questões noutra perspetiva. A respiração consciente é uma porta para aceder ao neocórtex, ativa o sistema nervoso parassimpático, a tensão do corpo começa a diminuir a cada expiração. Neste processo desencadeia-se a produção de neurotransmissores que são substâncias químicas produzidas pelos neurónios, que potenciam a sensação de bem-estar: têm um efeito calmante no cérebro (Ácido gama-aminobutírico – GABA); estimula o prazer (Dopamina); regula o humor (Serotonina); tem um efeito analgésico natural no corpo (Endorfina). A respiração consciente reduz a produção de Cortisol que é a hormona que controla o stress no organismo. Através da respiração elimina-se 70% das toxinas. Por oxidação as células são limpas e permite que os resíduos sejam transportados de volta aos pulmões pela corrente sanguínea. Em suma, permite restabelecer o equilíbrio do corpo e da mente e quando o consegue o cérebro Neocortex está de novo acessível.

Aroma – já experimentou colocar um aroma que goste quando está a realizar uma tarefa menos prazerosa? Por exemplo, um incenso, um óleo essencial no vaporizador, perfume, etc.
Reforçar o prazer – relembrar os ganhos que obtém ao concretizar o objetivo, pensar sobre qual é o propósito, porque é importante a sua concretização; visualizar-se repetidamente a alcançar o objetivo; divertir-se com o processo à medida que vai caminhando em direção ao objetivo. O segredo para manter o equilíbrio e o bem-estar está também em encontrar pequenos prazeres enquanto realiza as tarefas mais desafiadoras. É poderoso e ajuda-o de forma simples e fácil a ultrapassar as dificuldades. Procure pequenas ações que trazem cor à sua vida. Por exemplo, pode desempenhar uma tarefa menos agradável junto a uma janela soalheira ou ouvir uma música que goste. Consoante o local onde esteja, no escritório ou em casa, adequa o pequeno prazer ao trabalho que está a realizar e assim agrega maior bem estar. Com estas ações está a dar informação ao seu cérebro que “está tudo bem, não há perigo de me magoar com este processo”, está a “acalmar” a amígdala, deixa de ser uma situação de “perigo” e a mensagem que a amígdala transmite ao cérebro instintivo é de controlo da situação, de bem-estar.

Pensamentos confiantes – Vou dar-lhe alguns exemplos: “E se não fizer bem à primeira, o que de grave pode acontecer?”; “Como posso divertir-me enquanto tento chegar ao objetivo x?”; “E se correr bem, como me vou sentir?”; “Os outros conseguem, também vou conseguir, mesmo que precise de mais tempo”; “Qual a importância deste acontecimento na minha vida daqui a 10 anos?”; ” O que interessa é tentar”. Encontre as frases e as questões que o mantenham num registo construtivo, num campo de possibilidades. Está a tranquilizar o seu cérebro inconsciente o qual faz tudo para garantir a sua “sobrevivência”. Quando ultrapassa as dificuldades, a sua autoconfiança fica reforçada e sente-se mais capaz. Só necessita estar atento e atuar no momento certo.
Pedir ajuda – Pode também recorrer à ajuda de outras pessoas que lidam com facilidade com estas situações ou a uma ajuda mais especializada como um processo de coaching ou de programação neurolinguística que potenciam a transformação pessoal e profissional de forma mais acelerada. O mais importante é manter-se em movimento sabendo para onde quer ir, mais depressa ou mais devagar chegará ao seu destino. O filósofo Friedrich Nietzsche ao mencionar que “O homem é o único animal que tem de ser encorajado a viver”, lembra-nos que temos de estar atentos ao que nos dá prazer e permanecermos nesse lugar.

Será demasiado exigente manter-nos equilibrados? Talvez não, basta manter-nos conscientes e atuarmos quando começamos a “minar” a nossa confiança. Para alcançar os objetivos aceite que o caminho a percorrer não é em linha reta, mas cheio de curvas e para chegar ao fim do trajeto com sucesso, por vezes, significa abrandar e ir apreciando o que está ao seu redor. Torne o trajeto mais animado e verá que se torna mais fácil a sua conclusão com sucesso . É agora que vai tirar o objetivo da gaveta? *E Executive Consultant & Trainer, professora convidada no ISG-Instituto Superior de Gestão Com mais de 25 anos de experiência profissional em contexto organizacional, Inês Santos Silva trabalhou nas áreas de marketing e vendas em multinacionais, idealizou e liderou um projeto no âmbito dos Serviços de Apoio à Família.
Desde 2009 tem-se dedicado à area da consultoria, coaching e formação organizacional de líderes e equipas empenhadas na sua transformacão pessoal e de carreira, bem como ao ensino sendo professora convidada no ISG e Formadora na ECL. Licenciada em Gestão pelo Instituto Superior de Gestão (ISG, 1997), Inês Santos Silva é pós-graduada em Comunicação e Psicologia Positiva, pela Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa (FCH-UCP, 2021); certificada em Facilitating and Designing Workshops com a LEGO® SERIOUS PLAY® pela Rasmussen Consulting (The Association of Master Trainers, 2020); consultora especialista internacional em DiSC da Wiley pela Hiper-High Performance (H-HP,2017); trainer certificada em Points of You pela Egor em 2016; trainer em Programação Neurolinguística pela Internacional Association for NLP (IA-NLP, 2015); certificada em Coaching pela International Coaching Community (ICC,2009).

 

Fonte: https://linktoleaders.com/a-saga-dos-objetivos-por-alcancar-ano-apos-ano-qual-o-segredo-para-os-concretizar-ines-santos-silva/?fbclid=IwAR1nw5BgR0X2d4vpyUIAszQ52zfklHmEjiybaMX7buqfQfzbmfIeKd9Ee5E

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